O Café com CLP recebeu Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo e um dos principais articuladores para a construção de uma candidatura viável de centro para a disputa de 2022. Na conversa, falou do motim de PMs, das ameaças à democracia e do cenário para 2022.
Em janeiro de 2017, estourou um motim de policiais militares no Espírito Santo. O movimento pedia um aumento salarial de até 65%, durou três semanas e deixou caótico os serviços de segurança no estado, que precisou recorrer ao apoio de forças federais. O então governador Paulo Hartung estava internado em São Paulo, recuperando-se de uma cirurgia para retirada de um câncer na bexiga.
Hartung conseguiu autorização dos médicos para antecipar a sua alta e retornar ao trabalho. Ele estava preocupado porque, além do caos provocado pela insubordinação dos praças, a opinião pública estava se voltando contra o governo. Foi graças à articulação política e ao esforço de comunicação que Hartung foi capaz de esvaziar o movimento e recuperar a confiança dos capixabas. Disse que o estado passava por um esforço fiscal necessário para equilibrar as contas e não repetir o que estava acontecendo no Rio de Janeiro.
Hartung, ex-governador do Espírito Santo e presidente da Ibá, compartilhou as lições políticas desse episódio na mais recente edição do Café CLP. A entrevista foi comandada pelo cientista político Luiz Felipe D’Avila, presidente do Centro de Liderança Pública – CLP e publisher do Virtù News. O encontro ocorreu na manhã da quarta-feira (9 de junho). “Conversei muito com a sociedade e com os policiais”, disse Hartung. “Expus a realidade e superamos aquele momento”.
00:16 Lições do motim no Espírito Santo
10:12 Populismo e ataque às instituições
15:30 Cenário para 2022
23:00 Chances do centro
Hartung relembrou o episódio como um indicativo dos riscos de politização das polícias militares. Para ele, trata-se de um movimento que deve ser combatido, e não reforçado ainda mais “com o corporativismo que destrói o país”. Mas acredita que o momento delicado será superado. “A democracia está sendo atacada no Brasil, mas está demonstrando capacidade de autodefesa”, declarou. “Não temos uma democracia madura, mas está amadurecendo”.
De acordo com Hartung, existe uma onda global de questionamento da democracia liberal representativa. O desafio é atualizar as instituições e reconectá-las às demandas da sociedade.
Hartung é um dos grandes articuladores para a construção de uma candidatura de centro para enfrentar Bolsonaro e Lula no próximo ano. De acordo com ele, existe espaço para essa candidatura alternativa à polarização, mas o nome terá de ser muito bem escolhido para evitar a fragmentação do centro. “Precisamos derrubar o muro das vaidades”, disse.
Seria uma candidatura competitiva? Os índices de rejeição a Bolsonaro e a Lula são elevados e parecem cristalizados, argumentou Hartung. Por isso, vê boas chances para um centrista chegar ao segundo turno e sair vitorioso.
O encontro com Paulo Hartung foi mais um da série de cafés virtuais com representantes do centro democrático. Além do ex-governador do Espírito Santo, já foram entrevistados Tasso Jereissati, João Amoêdo, Luciano Huck, João Doria, Sergio Moro, Luiz Henrique Mandetta e Eduardo Leite.