Dinheiro no bolso, garantia de emprego e mídia mansa. É essa percepção da realidade que faz com que 39% dos brasileiros avaliem bem o governo no momento em que o Brasil se encontra na pior recessão econômica da história. O vácuo de lideranças públicas e a falta de ideias da oposição permitem que Bolsonaro continue protagonista de um monólogo prejudicial à democracia e ao País.
A pesquisa de opinião publicada recentemente pelo IPESP/XP revela dados importantes para analisarmos a percepção popular da realidade política. O primeiro indicador que salta aos olhos é a crescente popularidade do presidente: 39% dos brasileiros consideram o governo ótimo e bom, no momento em que o Brasil se encontra na pior recessão econômica da história e com a mais alta taxa de desemprego já registrada no país.
A pesquisa também revela que 47% dos brasileiros acreditam que a economia está no caminho errado; mesmo assim, a popularidade do presidente está em alta. Como é possível explicar esse fenômeno?
Três dados fornecem algumas explicações interessantes.
Dinheiro no bolso
Apesar de a economia estar mal, a vida dos mais pobres melhorou com o auxílio emergencial. Dinheiro no bolso deixou a maioria dos brasileiros felizes. Não é à toa que o presidente Bolsonaro quer descobrir algum contorcionismo financeiro para manter o bolso dos mais pobres com recursos que lhes garantam a sobrevivência à maré ruim da economia. 68% dos brasileiros acham que o governo deve manter o auxílio financeiro. Bolsonaro não quer decepcioná-los. E, se tiver de optar entre o mercado e o maior contingente do eleitorado brasileiro, optará pelo último.
Emprego garantido
O segundo ponto é que, apesar do desemprego recorde, a pesquisa mostra que a maioria acha que o pior da crise já passou e que aqueles que estão empregados devem manter seus empregos nos próximos 6 meses; 57% dos brasileiros acham que não perderão o emprego tão cedo.
Fala moderada de Bolsonaro
O terceiro dado é que a aliança do governo com o Centrão trouxe um ótimo resultado para Bolsonaro. Depois que esse grupo de parlamentares convenceu o presidente a moderar o tom de suas falas e buscar construir pactos políticos com o Parlamento, as críticas ao governo e ao presidente na imprensa diminuíram. Notícias desfavoráveis ao governo despencaram de 63% em maio para 40% em outubro.
Não é por outra razão que melhorou a avaliação da população sobre o desempenho do governo.
Vácuo de liderança
A ausência de uma oposição política articulada e preparada para apresentar propostas alternativas objetivas e factíveis beneficia enormemente Bolsonaro. O vácuo de lideranças públicas e a falta de ideias da oposição permitem que Bolsonaro singre incólume o oceano da política, tornando-se protagonista de um monólogo que não faz bem à democracia nem ao país.