Remédios utilizados para conter os danos da crise de 2008 não farão efeito em 2020. Navegamos águas desconhecidas nas quais as receitas de política monetária e fiscal do passado perderam validade. É um momento de cautela para a economia brasileira.
A queda da taxa de juros no Brasil e no mundo ajudou a impulsionar o crescimento da dívida global. Segundo o Institute of International Finance (IIF), a soma da dívida dos governos, empresas e famílias atingiu um recorde histórico: 257 trilhões de dólares no fim de 2019. É como se cada habitante do planeta devesse 32.500 dólares.
O crescimento da dívida global, adicionado à queda do comércio internacional (graças às medidas populistas para “proteger” o interesse nacional) e ao surto do coronavirus, ressuscitam o receio de recessão econômica e crise financeira. Um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) retrata a correlação entre alto nível de endividamento e aumento da probabilidade de crises financeiras.
Vale lembrar que os remédios amplamente usados pelos governos para conter os efeitos nefastos da crise financeira em 2008 não se aplicam ao atual contexto global. O “quantitative easing”, que se resumia em uma ação dos bancos centrais para injetar recursos públicos no mercado a fim de mitigar os efeitos da crise e reanimar a economia, é inócuo num mundo de juro zero. Tampouco será possível apelar à política fiscal e reduzir os impostos num momento de governos endividados e altas despesas públicas. Estamos navegando em águas desconhecidas e enfrentando uma nova conjuntura na qual as receitas de política monetária e fiscal do passado perderam validade.
Momento de cautela para a economia do Brasil
É verdade que a economia brasileira está lentamente retomando o caminho do crescimento, mas é preciso cuidado e realismo. O ufanismo nacionalista é uma armadilha que costuma destruir o bom senso e a devida cautela. No apogeu da crise do petróleo no fim dos anos 70, a economia mundial mergulhava numa espiral negativa de estagnação e inflação e o Brasil continuava a crescer. O então ministro Delfim Neto dizia que o Brasil era “uma ilha de prosperidade num mar de turbulência”. Não demorou muito para o País estatelar no início dos anos 80, declarando moratória e assistindo a trajetória espiral da inflação. No mundo globalizado, não existem ilhas. Somos todos galhos da mesma árvore econômica que dá frutos e também pragas.
Precisaremos da mesma disposição exemplar que governos e setor privado demonstram em colaborar com o esforço internacional para desenvolvermos a vacina contra o coronavirus e replicá-la para combatermos os sintomas que ameaçam a economia global.