Virtù News entrevista Renata Mendes, gerente da Endeavor e líder do Pra Ser Justo, movimento em defesa da reforma tributária. Na conversa, ela explica por que a proposta do governo é tímida e pior: pode esvaziar o projeto de transformação estrutural
Alguns números ajudam a compreender o potencial de uma reforma tributária ampla. Hoje, as empresas gastam em média 1.500 horas ao ano para enfrentar a burocracia do pagamento de impostos. Com a reforma, esse tempo deverá cair em 70%. Sobrará dinheiro para investir mais na produção, e, por isso, pelo menos 300 mil empregos serão criados ao ano.
O PIB brasileiro, dentro de 15 anos, poderá ser 20 pontos percentuais maior do que será num cenário sem reforma. Por fim, haverá 30% mais investimentos estrangeiros no País, hoje intimidados e represados, diante do cipoal fiscal e regulatório. São todas estimativas baseadas em comparações internacionais.
Tudo isso sem falar no benefício social, explica Renata Mendes. Ela é líder do movimento Pra Ser Justo e gerente da Endeavor. O Pra Ser Justo conta como o apoio de entidades como o Centro de Liderança Pública (CLP), o Centro de Cidadania Fiscal (CCiF) e o Unidos pelo Brasil.
“Precisamos de um sistema mais progressivo, em que os 10% mais pobres paguem menos e os 10% mais ricos paguem mais”, afirma. “Uma reforma ampla representaria uma transformação similar ao Plano Real”.
00:10 Importância da reforma de bens e serviços
06:51 Complexidade para os negócios
11:05 Perspectivas e próximos passos
O governo, contudo, decidiu fatiar o projeto. Apresentou o Projeto de Lei 3887/2020, que apenas unifica PIS/Cofins e cria a CBS (Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços). “É uma simplificação, um puxadinho, mas não dá para falar que seja uma reforma”, diz Renata. “Ficaram de fora os tributos estaduais e municipais, o ICMS e o ISS”. Problema: o ICMS é o grande entrave tributário do País.
Em sua avaliação, depois de anos de discussão, havia um apoio de governadores e prefeitos para uma reforma mais ambiciosa. “Fatiar traz risco de perder a melhoria como um todo. Corremos o risco de perder a maturidade no debate.”