A reeleição de Antonio Costa retrata a vitória do pragmatismo político sobre o populismo.
Enquanto o populismo tornou-se a força desestabilizadora da política na Europa e no mundo, a “geringonça” de Antonio Costa – a coligação governista formada pelo partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista – produziu bons frutos. Durante o seu mandato, o país saiu da recessão e a economia voltou a crescer: 2,8% em 2017 e 2,1% em 2018. Antonio Costa havia herdado um país com uma taxa de desemprego de 17%, mas agora caiu para 6,6% – a menor taxa de desemprego dos últimos 10 anos. O crescimento econômico e queda do desemprego deram ao partido Socialista uma expressiva vitória eleitoral nesse domingo. O partido conquistou a maior bancada do Parlamento, 106 assentos (36,65% dos votos).
A estratégia de Antonio Costa
Enquanto o populismo acirra a polarização e dificulta o diálogo e o entendimento entre as pessoas, os partidos políticos e o governo, Antonio Costa fez uma aliança com os partidos de esquerda para implementar a agenda econômica da direita. O primeiro-ministro manteve a política de austeridade econômica e reduziu o déficit orçamentário que estava em 4,3% do PIB em 2016 para 0,7% em 2018. Essa foi a menor taxa em 45 anos e, até o fim do ano, o déficit deve zerar. A mistura de austeridade fiscal com crescimento econômico e baixo desemprego esvaziou o discurso da oposição. Os partidos de direita – especialmente o PSD – sofreu uma acachapante derrota; o pior resultado eleitoral dos últimos 36 anos. O PSD, o principal partido da oposição, perdeu 12 deputados, ficando com 77 cadeiras no Parlamento e conquistando apenas 27,9% dos votos.
Com os ganhos econômicos de um governo de esquerda que incentiva o mercado, os negócios e o empreendedorismo, o país cresce e sobra dinheiro no caixa do governo para Antonio Costa satisfazer a agenda da esquerda. Durante o seu governo, o salário mínimo aumentou 20%, o congelamento do salário dos servidores públicos foi suspenso.
O pragmatismo político de Antônio Costa tirou Portugal da recessão econômica e voltou a gerar empregos, neutralizando a onda populista que varre a Europa. O Chega, partido que se assemelha ao PSL do presidente Bolsonaro, elegeu um único deputado. O eleitor premiou o governo que se dedicou a melhorar o país, evitando o caminho da demagogia da esquerda e o populismo de direita. Mas agora o contexto é outro e a habilidade política de Antonio Costa será novamente testada. Ele precisará criar uma nova “geringonça” para governar o país num novo contexto. A Europa está à beira da recessão; o custo de moradia nas principais cidades, como Lisboa e Porto, sobem vertiginosamente. Os partidos de esquerda pressionam Costa por aumento de gastos sociais e até mesmo por mais intervencionismo do Estado na economia. Portugal mostrou que o pragmatismo político para se criar coligações políticas dispostas a enfrentar os reais problemas do país é a melhor fórmula para evitar as falsas receitas do populismo, do radicalismo e da polarização da sociedade.
O Brasil tem muito a aprender com o exemplo de Portugal.