O momento é grave e demandaria focar esforços para melhorar as relações comerciais e diplomáticas com a China, o grande parceiro comercial do Brasil. Mas o governo brasileiro faz o oposto quando permite a Eduardo Bolsonaro (filho do Presidente da República), e ao ministro da Educação transformar as relações comerciais e a diplomacia em mais um palco da retórica populista e partidária. É criminoso querer arrancar aplausos de seguidores em detrimento do interesse nacional em uma época que o mundo vai mergulhar numa recessão que diminuirá a compra de produtos brasileiros e afetar a nossa balança comercial.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Exportamos 64,2 bilhões de dólares para o país asiático, o que equivale a 27% do valor do nosso comércio exterior em 2019.
A China é o maior comprador dos dois principais ítens da nossa pauta de exportação, notadamente produtos agrícolas e minério. É também um dos principais investidores estrangeiros no País. Comprou participações em ativos de infraestrutura, como energia e transporte; e já demonstrou grande interesse em investir em saneamento básico no Brasil. Aguarda apenas o Congresso a votar o novo marco regulatório. A Câmara já aprovou o novo marco regulatório mas, inexplicavelmente, ele está parado no Senado desde novembro.
Se a nossa diplomacia continuasse a seguir o seu curso tradicional de zelar pelos interesses nacionais e blindá-la das disputas partidárias, o Brasil estaria focado em melhorar as relações comerciais e diplomáticas com a China. Afinal, o horizonte de médio prazo já apresenta dois grandes desafios para as exportações brasileiras.
Recessão mundial vai diminuir as exportações
Primeiro, o mundo deve mergulhar numa recessão mundial que deve diminuir a compra de produtos brasileiros e afetar a nossa balança comercial. Seria a hora da diplomacia comercial evitar danos maiores para mitigar a queda da venda dos nossos produtos para a China. É verdade que a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, estão trabalhando para resolver problemas e disputas com o governo chinês.
China vai comprar mais dos EUA e menos do Brasil
Segundo, o Brasil vai pagar parte da conta do acerto entre Trump e Xi Jinping, quando acordaram um armistício na guerra comercial entre Estados Unidos e China. Parte do acordo requer que a China aumente as suas compras dos produtos agrícolas americanos. Isso significa, comprar menos produtos brasileiros.
O ex-embaixador brasileiro, Sergio Amaral, estima que o Brasil vai vender 10 bilhões de dólares a menos de produtos agrícolas para a China por causa do acordo com os Estados Unidos.
Nesse cenário desafiador é lamentável que os ataques insensatos do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, culpando a China pela crise do coronavírus, e do ministro da Educação, colaborem para azedar a relação entre os dois países.
Ao transformar as relações comerciais e a diplomacia em mais um palco da retórica populista e partidária para arrancar aplausos de seguidores em detrimento do interesse nacional, o Brasil demonstra que no governo Bolsonaro não se distingue mais entre política de Estado e política partidária. Quem perde com essa postura é o Brasil, o setor produtivo e as nossas exportações.