País piora nos índices de felicidade, renda e desigualdade. Novos marcos da infraestrutura vão acelerar a retomada e criar empregos, contribuindo para a superação do pessimismo.
Os brasileiros andam menos contentes com o seu bem-estar e mais pessimistas com relação ao futuro. Uma pesquisa do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas revelou que, numa escala que faz de 1 a 10, o índice de felicidade ficou em 6,1, a menor nota desde o início da pesquisa, em 2006.
A queda na avaliação que os entrevistados fazem de seu bem estar foi mais forte aqui do que a vista na maioria dos outros países, de acordo com os pesquisadores da FGV. O aumento do desalento foi maior entre as famílias de renda mais baixa. Entre os grupos de maior rendimento, o nível de felicidade ficou estável.
A pesquisa Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia, coordenada pelo economista Marcelo Cortês Neri, é um retrato acabado do desânimo que tomou o País. A análise traça uma piora nos indicadores de renda e desigualdade, com o agravamento, sob o impacto da pandemia, de um retrocesso social que havia se iniciado ainda no governo de Dilma Rousseff, na sequência de dois anos de forte recessão. O pico da felicidade (nota 7,1) foi registrado em 2014, antes da derrocada econômica.
A desigualdade de renda vem aumentando desde 2015. Pelos critérios do estudo, o índice de Gini subiu a 0,674, a pior marca da série com índice da base de dados, em 2012. O índice vai de uma escala de 0 (perfeita distribuição de renda) a 1 (pior distribuição). Como mostra o estudo, houve dois grandes saltos, em 2015 e em 2020, já sob o impacto da pandemia.
O avanço na desigualdade é uma consequência da queda nos rendimentos dos mais pobres. A renda média dos brasileiros caiu 11,3% desde o início do ano passado e encontra-se hoje no patamar mais baixo da série histórica, no valor de R$ 995. O efeito negativo da pandemia foi mais cruel para as famílias de renda mais vulneráveis, que tiveram uma queda de 21% em seus rendimentos, na média.
São indicadores preocupantes, porque, como apontam diversos estudos de ciência política, as disparidades crescentes corroem a coesão social e, na política, dão espaço a políticos populistas. Benjamin Friedman, no livro As Consequências Morais do Crescimento Econômico (2005), analisa como a falta de perspectivas pode minar a confiança na democracia. Afirma Friedman: “Como observou o historiador econômico Alexander Gerschenkron, nem mesmo um país com longo histórico democrático está necessariamente imune ao risco de se transformar em uma ‘democracia sem democratas’”.
Espera-se que não seja o caso do Brasil. Mas o fortalecimento da democracia depende da criação de oportunidades e da prosperidade para a ampla maioria da população.
Como superar o pessimismo
O Brasil precisa voltar a crescer e a única fórmula conhecida para o crescimento duradouro é o aumento dos investimentos, tanto no capital físico (ampliação na capacidade das empresas e melhoria da infraestrutura) e, sobretudo, no capital humano (ensino, desenvolvimento científico e pesquisa).
No curto prazo, o caminho mais curto para acelerar os investimentos é destravar as obras na infraestrutura. Por isso a importância dos novos marcos regulatórios aprovados recentemente, como o do saneamento e o gás natural, bem como outros à espera da votação no Congresso, como o do marco elétrico e o das ferrovias.
No saneamento, os investimentos necessários para universalizar o acesso a água e esgoto tratado são estimados em mais de R$ 500 bilhões ao longo da próxima década. Esses projetos são essenciais também para melhorar as condições de vida e a prosperidade das famílias mais pobres, como mostrou uma reportagem do Virtù (Renda básica sem saneamento básico é dinheiro pelo ralo). Como o novo marco, mais favorável à competição, os projetos já começam a ganhar força em diversos estados.
O novo marco elétrico, além de trazer a possibilidade de uma queda no custo da eletricidade, deverá elevar o PIB do País em até 0,5 ponto porcentual, segundo um estudo do Centro de Liderança Pública – CLP. Com a nova lei do gás, há a previsão de serem destravados investimentos da ordem de R$ 380 bilhões.
Reformas com elevada resistência política, como a administrativa e a tributária, encontram dificuldade para avançar em Brasília e, pior, correm o risco elevado de serem descaracterizadas por causa da falta de liderança do governo. A discussão sobre essas reformas não podem ser abandonadas, mas, enquanto as votações seguem emperradas, é essencial criar um ambiente mais favorável aos investimentos produtivos.
Os novos marcos da infraestrutura, parte importante na agenda defendida pelo movimento Unidos pelo Brasil, vão trazer bilhões em investimentos e criar milhares de empregos. Ajudarão assim o País a superar o pessimismo, revertendo o retrocesso social e fortalecendo a confiança na democracia.