O novo marco do saneamento é um dos mais impactantes programas de investimento da história recente do País. Trata-se de um assunto coletivo. Toda a sociedade será beneficiada direta ou indiretamente: mais investimentos, mais negócios, mais emprego, maior renda e produtividade. Mais saúde, maior escolaridade, imóveis mais valorizados, potencial turístico aumentado. VirtuNews reúne seis setores que serão positivamente impactados pelo projeto recém aprovado no Senado.
Quando o nó regulatório do saneamento estiver devidamente desatado será dada a largada para um dos mais impactantes programas de investimento visto no País na sua história recente. Os efeitos positivos sobre a economia serão consideráveis. A exigência de universalizar os serviços de água tratada e coleta de esgoto até 2033 requer um salto no nível de investimentos. O valor necessário a ser aplicado para alcançar as metas do novo marco deverá superar R$ 500 bilhões.
Haverá, consequentemente a criação de milhares de empregos. Além do mais, os investimentos em saneamento vão melhor expressivamente a qualidade da saúde pública. Espera-se menos internações por doenças gastrointestinais, e, portanto, menos gastos com atendimento médico. A queda na incidência de pessoas infectadas representa menos dias de trabalho e de estudos perdidos – portanto, é mais produtividade para a economia.
Um estudo do Trata Brasil buscou estimar o ganho financeiro total esperado com a universalização. Os ganhos com novos investimentos e recolhimento de impostos devem alcançar R$ 835 bilhões.
Outros R$ 687 bilhões devem ser obtidos indiretamente, em decorrência do aumento na eficiência e redução de perdas. Os custos de operação esperados são de R$ 396 bilhões. Dessa maneira, o ganho líquido em um espaço de 20 anos poderá ser de R$ 1,13 trilhão, ou R$ 56,3 bilhões por ano.
A seguir, veja setores que vão se beneficiar diretamente com a universalização do saneamento.
1.Investimentos
As exigências de universalização até 2033 dos serviços de água encanada e coleta de esgoto vão exigir uma aceleração dos investimentos, com recursos tanto do setor público como do privado. A média de dispêndio, nos últimos anos, tem se mantido ao redor de R$ 12 bilhões. Esse valor precisa, no mínimo, dobrar.
Um outro resultado positivo será com a valorização das companhias públicas de água e esgoto. A maioria delas encontra-se em situação de baixa eficiência e pouca capacidade de prestar os serviços adequadamente. Com a concorrência mais acirrada, terão de se modernizar ou serem privatizadas. De acordo com um estudo do Ministério da Economia, as empresas estatais de saneamento valem hoje R$ 60 bilhões. Se fossem privatizadas, entretanto, elas poderiam ter um valor de até R$ 139 bilhões. É um indicativo do ganho de eficiência esperado.
Haverá ainda outro efeito positivo: a redução nas perdas. Hoje, 38% da água tratada é desperdiçada de alguma maneira, por causa de vazamentos, instalações malfeitas e falta de manutenção. O prejuízo representa R$ 12 bilhões ao ano.
2.Saúde
A cada mês, mais de 30.000 pessoas são internadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em decorrência de doenças gastrointestinais causadas pela má qualidade do saneamento no País. Pessoas doentes são menos produtivas, e, além do mais, o tratamento médico consome um dinheiro precioso das famílias e também do setor público. É uma conta dupla que, em pleno século XXI, não faz o menor sentido continuar pagando.
Com a universalização, espera-se que serão poupados R$ 297 bilhões ao ano, na comparação com as despesas atuais de saúde com essas doenças. O ganho total, num período de vinte ano, chega perto de R$ 6 bilhões.
3.Emprego e renda
As obras de saneamento já são uma importante fonte de criação de postos de trabalho, sobretudo para as pessoas menos qualificadas. Com a abertura desse mercado aos investimentos, esse potencial será ainda maior. Em 2017, por exemplo, houve quase 18.000 registros de afastamentos temporários do emprego por causa de vômitos e diarreia.
A universalização do saneamento deverá trazer um ganho de R$ 190 bilhões, ao longo de vinte anos, em termos de ganhos de produtividade e salários maiores. São R$ 9,5 bilhões a mais, a cada ano, nos bolsos dos trabalhadores.
No que diz respeito à criação de vagas, 69 mil postos de trabalho diretos em obras de saneamento foram abertos entre 2005 e 2015. Se o investimento, daqui por diante, dobrar, o número de vagas também vai dobrar.
4. Educação
Estudos indicam também uma forte correlação entre o saneamento e educação. Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continuada de 2016, foi possível identificar que as pessoas que moravam em domicílio sem acesso à água e ao serviço de coleta de esgoto tinham uma escolaridade 25,1% menor do que a de uma pessoa que residia em moradias com acesso integral ao saneamento. Nas capitais brasileiras, a diferença foi de 16,6%.
Uma outra maneira é estimar como essa diferença vai afetar a vida futura das crianças. Um estudo do Trata Brasil apontou que as crianças e jovens que moravam em áreas sem acesso aos serviços de coleta de esgoto tinham, em média, um atraso escolar 1,5% superior ao daqueles que moravam em locais com coleta de esgoto. A falta de banheiro na moradia aumenta em 7,3% o atraso escolar dos jovens.
5. Imóveis
Um dos grandes benefícios para as famílias pobres cujas residências são desprovidas de saneamento básico será a valorização de seus imóveis. Estudos feitos a partir do levantamento do IBGE mostram que casas parecidas em bairros similares valem bem menos quando não possuem água encanada e coleta de esgoto. E qual seria o efeito de sanar essas deficiências? Uma valorização de 33% no valor do imóvel.
Outro indicativo do potencial de ganho está no valor dos aluguéis. Segundo um estudo do Trata Brasil, tendo como base novamente dados do IBGE, a mensalidade paga pelos inquilinos de casas com saneamento era, em 2016, o dobro ao valor pago por aqueles que habitavam casas de perfil semelhante, mas que não eram conectadas à rede de água e esgoto.
O ganho anual esperado com as obras de universalização é de R$ 22,4 bilhões, ou uma valorização total de R$ 448 bilhões em 20 anos.
6.Turismo
Praias sujas e impróprias para banho, áreas rurais degradadas, represas e rios poluídos. Diversas atrações turísticas naturais acabam tendo o seu potencial de turismo abalado por causa da falta de saneamento. A estrutura precária afasta também investimentos e inibe o desenvolvimento de projetos mais ambiciosos, capazes de atrair turistas dispostos a gastar mais dinheiro.
Por tudo isso, o turismo será um dos setores mais beneficiados pela universalização do saneamento. Os efeitos serão pelo aumento de negócios e investimentos, geração de emprego e recolhimento de impostos para os governos locais. Tudo somado, o ganho esperado, ao longo de 20 anos, chega a R$ 43 bilhões, ou R$ 2,1 bilhões por ano.
Proporcionalmente, os benefícios serão maiores nas regiões Norte e Nordeste, as duas mais pobres do país. Os números mostram que existe uma correlação entre o acesso ao saneamento e o percentual de pessoas empregadas no turismo. Ao contrário do que se possa imaginar, há estados nessas duas regiões em que o percentual de pessoas ocupadas no turismo é baixíssimo, sinal de restrições no desenvolvimento da atividade. São regiões que, apesar de suas riquezas naturais, ostentam os piores indicadores de saneamento. São elas, portanto, que mais terão a ganhar com o fim desse atraso secular no saneamento.