Fuga recorde de capital, risco-Brasil elevado, câmbio altíssimo, investimentos externos em queda. Não faltam dados para apontar o descrédito internacional e a desastrosa política externa do presidente Bolsonaro que arruinaram a confiança dos investidores no País, nosso maior ativo para a retomada do crescimento econômico e a geração de emprego. Um choque de realidade e realismo político no núcleo do governo é urgente para evitar a bancarrota do Brasil.
A retomada da economia depende de dois ativos: investimento privado e investimento internacional. A condição indispensável para o Brasil atrair esses investimentos é a confiança. Se investidores não confiam no governo, nas regras do jogo e no cumprimento de contratos, o dinheiro migra para países mais confiáveis e previsíveis. Lidar com um certo grau de inconsistência e voluntarismo de governos e instituições faz parte do risco (e também da oportunidade) de se investir num país com enorme mercado interno e potencial de crescimento.
Como escreveu o economista Affonso Celso Pastore, “o Brasil quase sempre teve déficits nas contas correntes, que nunca deixaram de ser superados pelos ingressos de capitais”.
Pastore menciona que essa trajetória positiva de várias décadas de superávit de ingressos de capital superando os déficits nas contas correntes cessaram de existir nos últimos 12 meses. O Brasil registrou um déficit de 50 bilhões de dólares no período.
O nível do risco país – Credit Default Swaps (CDS) – aumentou mais de 250% no mesmo período; e o câmbio disparou, revelando a maior fuga de capitais do Brasil desde 1995. A Bolsa de Valores (B3) registrou fuga recorde de capital: 77 bilhões de reais somente em 2020.
Descrédito internacional
Esses números retratam o descrédito internacional do Brasil e a desastrosa política externa do presidente Bolsonaro. Sua liderança errática e suas declarações irresponsáveis arruinaram a confiança dos investidores no País. Perdemos o maior ativo da retomada do crescimento econômico e da geração de emprego no país: a confiança do capital privado. Para reconstruir a reputação e a credibilidade do Brasil, Bolsonaro terá de mudar rapidamente a conduta da política externa, de atitude pessoal e de postura política. Essa é a única alternativa responsável que lhe resta.
A alternativa irresponsável seria um desastre para o País. Ela consiste em rifar a política liberal de Paulo Guedes, aumentar o gasto público, adotar uma política fiscal expansionista e estimular a economia por meio do aumento do investimento público. Essa opção levaria o Brasil à bancarrota. Como advertiu Pastore, “sabemos como termina a história: no limite, para truncar a depreciação cambial e a venda de reservas, chegaríamos ao controle de capitais. É só olhar para a Argentina. Há um iceberg por perto, e o risco de colisão é alto”.
Ainda nos resta uma fresta aberta para a retomada da política do bom senso, mas será preciso um choque de realidade no seio do governo para tirá-lo do torpor ideológico e colocá-lo no caminho do realismo político.