Furo no teto força Banco Central a elevar ainda mais os juros, derrubando a atividade econômica e aumentando o desemprego. Estudo da OCDE prevê que sem aumento na produtividade a renda média do País ficará estagnada pelas próximas quatro décadas
A queda do teto de gastos já faz estragos na economia brasileira. Como previsto, o resultado do colapso da regra de controle das despesas será juros mais elevados e menor crescimento econômico. O Banco Central decidirá na próxima quarta-feira o ritmo de alta na taxa básica de juros, a Selic, e poderá indicar uma sequência de aumentos nos próximos meses acima do previsto originalmente.
De acordo com a estimativa média das consultorias econômicas, o PIB brasileiro terá um avanço medíocre de apenas 1,4% em 2022, e a taxa Selic deverá chegar a 8,75% ao ano, ante 6,25% hoje. Mas são previsões que já podem estar defasadas. Nem todos os economistas refizeram as suas contas depois de o governo ter anunciado a sua decisão de furar o teto de gastos. O Itaú, que possui um dos melhores departamentos de pesquisa do País, divulgou ontem projeções bastante negativas: a economia poderá ter uma contração de 0,5% no próximo ano. A alta na inflação e a incerteza com o volume de gastos públicos no ano eleitoral exigirão que a taxa Selic suba para 11,25%. Nessas condições, a taxa de desemprego continuará extremamente elevada e estará em 13,3% ao final do próximo ano.
Prever o que acontecerá na economia nos próximos meses nunca é algo simples, porque existem muitas variáveis — internas e externas — que podem influenciar no resultado final. O importante, contudo, é notar a indicação das consequências esperadas depois da pedalada populista que Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, decidiram realizar no próximo ano. Havia outras maneiras de assegurar uma expansão dos gastos sociais sem romper os limites do teto, mas o governo escolheu o caminho simplista porque conseguirá preservar a distribuição de verbas para a sua base aliada. Ao final, poderá atingir um gasto acima do teto original de quase R$ 100 bilhões em 2022. O Centrão agradece.
Diante dos desequilíbrios, o BC precisa reagir, senão os reajustes nos preços continuarão alimentando a alta acentuada na inflação, que já bateu nos 10%. Nada disso seria necessário caso o governo respeitasse as regras fiscais e fizesse ajustes para conter as despesas públicas.
Recessão no curto prazo, estagnação no futuro. Esse será o resultado inescapável caso o próximo governo não recoloque o País na rota das reformas e do crescimento. Um recente estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que o Brasil terá um dos piores resultados econômicos ao longo das próximas quatro décadas. A renda per capita da população permanecerá praticamente estagnada. É um resultado direto da baixa produtividade dos trabalhadores, que, por sua vez, reflete a falta de reformas que permitam a melhoria da educação, a maior eficiência da máquina pública e o aumento dos investimentos públicos e privados.
O gráfico abaixo compara a evolução do Brasil em relação a outros países em desenvolvimento. Apenas a Colômbia, entre as economias avaliadas, chegará a 2060 com uma renda média inferior à brasileira.
O Brasil não pode se contentar com um futuro tão medíocre. Governos anteriores precisam ser devidamente julgados pelos seus erros. Já os candidatos à Presidência em 2022 terão que apontar propostas coerentes para superar o pessimismo e afastar o País de um futuro sombrio.
Com essa classe política egoísta e insensível, dá para esperar algo melhor?