Reformas como a nova lei de falência e marco do saneamento são bem-vindas, mas, segundo o economista, elas só vão trazer mais crescimento se houver menos turbulência política e econômica: “O macro precisa estar bem resolvido, senão o micro não consegue gerar produtividade”
A frustrante retomada econômica brasileira deverá levar a uma desaceleração no próximo ano. O cenário de profunda indefinição política e incertezas que se avolumam na economia inibe os empresários, que adiam os investimentos em novos projetos. Mesmo os avanços obtidos com aprovação de algumas reformas recentes, entre elas a nova lei de falências e o marco legal do saneamento, poderá ter resultados abaixo do esperado, caso não haja uma maior estabilidade econômica. Isso requer contas públicas em ordem, inflação sob controle e juros mais baixos.
Esse é o resumo da análise feita pelo economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, em sua conversa com o Virtù. Na sua avaliação, deve-se ver como favorável o fato dos avanços que vêm ocorrendo para aprimorar o ambiente de negócios. Mas o retrocesso na estabilidade macroeconômica, com desequilíbrio fiscal, aumento da inflação e dos juros, acaba enfraquecendo a capacidade de essas reformas ampliarem o crescimento. “O macro precisa estar bem resolvido, senão o micro não consegue avançar e gerar produtividade”, comenta. “O macro precisa entregar inflação baixa e taxa de juros baixa. Estamos devendo no macro. A regra do teto de gastos vem sendo ameaçada pelo próprio governo”.
Em sua opinião, a reforma tributária ampla deveria ser tratada como prioritária, porque ela traz um benefício duplo: “micro” — na melhora do ambiente de negócios e redução de custos para as empresas — e “macro” — no aumento do crescimento e melhora da situação fiscal. “A reforma tributária é essencial para aumentar o crescimento nos próximos anos”, resume Vale.
No mercado de trabalho, o Brasil já passava por uma situação precária desde a saída da recessão de 2015 e 2016. Antes da pandemia, o desemprego era de 11,5% “O crescimento baixo não permitiu uma queda maior na taxa”, diz Vale. “Depois veio um novo choque, uma nova crise significativa, como foi a pandemia.”
E o que esperar para o próximo ano? Um cenário de turbulência política e fiscal, com inflação elevada e risco de racionamento. Deverá haver uma nova desaceleração na economia. “As empresas ainda estão com receio de fazer grandes contratações”, diz Vale. “É um cenário em que não dá tranquilidade para a população, com desemprego elevado e precarização.”