
LIDERANÇA e GESTÃO PÚBLICA
*Professores do MLG – Máster em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP
Artigo de Humberto Dantas | doutor em ciência política pela USP, pesquisador pós-doutorando em administração pública pela FGV-SP. Head de Educação do CLP e coordenador do MLG.
Apresentação
O MLG é uma pós-graduação do Instituto Singularidades e do CLP – Liderança Pública cujo objetivo maior é formar líderes, e uma imensa rede deles, que buscam enfrentar grandes desafios de transformação no universo público. Nesta semana iniciamos um compromisso semanal entre os professores do MLG e o VirtùNews. Estou feliz demais de fazer parte desse time e de dar o pontapé inicial nesse espaço.
Transições e transições
Em 2018, o CLP realizou seu tradicional encontro anual de lideranças sob a temática de transição de governo. Num praticável cercado por algumas centenas de pessoas, com o microfone nas mãos, no final da tarde de um dia intenso de palestras e atividades, eu disse: “Se o presidente da República eleito entrar por aquela porta, e disser que só sai daqui com seu ministério formado, eu tenho a mais absoluta certeza de que até com o time de chefes de gabinete ele volta pra casa”. Essa rede é potente demais. E a temática é essencial.
Transições são fases absolutamente fundamentais para a democracia e a lógica republicana. Faz alguns dias, o Instituto Positivo e o Itaú Social lançaram uma cartilha para estimular as boas práticas desse tipo entre gestores públicos da área de educação. Não fosse a cultura política de nosso país e não precisaríamos de algo assim. Tive a honra de falar no evento, mas fico pensando no tamanho do desafio de a cada dois anos termos que lembrar os políticos derrotados sobre quanto o povo é soberano para trocar, e quanto devemos respeitar essas direções.
Fernando Henrique Cardoso, nacionalmente, talvez tenha sido o político a promover a mais decente transição da história da Presidência, em 2002. Lembremos que depois dele tivemos uma troca entre agentes do mesmo partido em 2011, o que tende a ser suave; um processo de impeachment; uma troca fria protagonizada por um ex-presidente imerso em impopularidade e corrupção; e um agente eleito sob um discurso de que nem aceitaria a derrota, se ela ocorresse. Bolsonaro demorou quase dois anos para aprender a dialogar. Paciência.
Tipos de transição
A pandemia nos trouxe um desafio gigantesco. Semana passada, mais especificamente na segunda-feira, nós conheceríamos mais de 98% dos prefeitos eleitos no Brasil e todos os vereadores. A pandemia empurrou as eleições do domingo, dia 4 de outubro, para meados de novembro, sem alterar a lógica da posse. Teremos, portanto, o menor período de transição de nossa história recente. Ainda assim, para a imensa maioria, serão cerca de 45 dias. De 16 de novembro até janeiro. Dá tempo? Sim, certamente. Até porque existem transições e transições.
No primeiro tipo o governante reeleito passa o poder a ele mesmo. Hora de fazer ajustes, reorganizar técnica e politicamente o espaço dentro da máquina e prestar contas, por mais que a revalidação do mandato permita imaginar que algo está agradando. No segundo tipo o governante transmite o poder a alguém de seu grupo político. Aqui a coisa fica mais delicada: algumas trocas são esperadas, os conflitos tendem a existir no médio prazo quando quem sucedeu se sente invadido por quem foi sucedido, mas a tendência é haver equilíbrio se as partes forem minimamente civilizadas. Por fim, o terceiro e mais desafiador tipo de transição: entregar o poder a quem nos derrotou. E aqui conhecemos os grandes políticos, as pessoas de caráter.
Algo errado nas eleições em termos jurídicos? Acione a Justiça, mas não seja justiceiro. Está com sede de vingança porque recebeu a Prefeitura de pernas pro ar faz quatro ou oito anos? Dê o exemplo e faça o contrário. Entregue um memorial descritivo de tudo o que fez, deixe seu legado escrito, faça disso um gesto de perfeita administração, respeito democrático, espírito republicano e grandeza política. Distribua o material, mostre, se orgulhe, não minta, tampouco exagere.
Agradeça o apoio que teve e fique certo: o povo é soberano e tem o direito de mudar. Isso lhe ofertará a percepção de que terá um discurso pronto para daqui a quatro anos: você foi contratado para cuidar da coisa pública e cuidou. Fez sua parte. Deixou sua marca. Permita que a sociedade exista para além de seu ego e se prepare. Quem perde um campeonato não necessariamente deixará de ter a chance de um dia ser campeão.
Quem é quem?
*Professores do Máster em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP
Patricia Tavares
Doutora em Administração para FGV, Visiting Fellow of Practice da Blavatnik School of Government, Universidade de Oxford. Co-fundadora e sócia da Datapedia.info, a maior plataforma de dados sócio-econômicos e eleitorais do país. Consultora e Professora do Insper e do CLP.
Humberto Dantas
Doutor em ciência política pela USP, pesquisador pós-doutorando em administração pública pela FGV-SP. Head de Educação do CLP e coordenador do MLG – Master em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP.
Antônio Napole
Administrador de empresas pela FGV-EAESP, bacharel em Rádio TV pela FAAP e mestrando em jornalismo nas Cásper Líbero. Napole é professor do MLG e vice presidente da Kaiser Associates, consultoria de estratégia.
Fernando S. Coelho
Doutor em administração pública pela FGV, professor de gestão pública da EACH-USP. Docente-colaborador do Master em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP.
Diego Conti
Doutor em administração pela PUC-SP e pela Leuphana Universität Lüneburg (Alemanha) em governança urbana e sustentabilidade. Mestre em administração pela PUC-SP com pesquisa sobre indicadores de sustentabilidade. Consultor internacional, pesquisador e professor de pós-graduação do mestrado em Cidades Inteligentes e Sustentáveis da UNINOVE e professor associado do CLP – Liderança Pública.
Denilde Holzhacker
Doutor em ciência política pela USP. Foi visiting scholar no Bentley University, (MA, Estados Unidos). Professora na ESPM-SP e coordenadora do Legislab-ESPM. Integra a rede de professores MLG – Master em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP.
Vinícius Muller
Doutor em História Econômica, colaborador da Revista Digital Estado da Arte, do Estadão, e professor do INSPER e do CLP. Autor de Educação Básica, Financiamento e Autonomia Regional (Ed. Alameda)
Rodrigo Estramanho
Bacharel em Sociologia e Política pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo (ESP), Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC/SP. É professor na FESPSP e no MLG, pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (NEAMP) da PUC/SP e psicanalista membro do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
Humberto Falcão Martins
Professor da EBAPE/FGV e EAESP/FGV, visiting fellow na London School of Economics. Fundador do Instituto Publix. Foi Secretário de Gestão no Min. do Planejamento, delegado do Brasil no Comitê de Gestão Pública da OCDE e Presidente da Rede de Gestão Pública e Transparência do BID. Bacharel em Administração pela UnB, Mestre em Administração Pública pela EBAPE/FGV, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (ENAP) e Doutor em Administração pela EBAPE/FGV.
Eduardo Deschamps
Doutor em Engenharia pela UFSC, Professor da Universidade Regional de Blumenau – FURB e do MLG – Master em Liderança e Gestão Pública do Singularidades-CLP. Conselheiro do CEE-SC. Presidente do CNE (2016-2018).
Gabriela Lotta
Doutora em ciência política pela USP, professora de administração pública pela FGV EAESP. Coordenadora do Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB/FGV).