O presidente dos EUA compreendeu o impacto político do número de mortes associado ao coronavírus e mobilizou o arsenal americano para enfrentar a mais dura crise humanitária e econômica do século 21. Quer a reeleição. No Brasil, Bolsonaro traçou um caminho suicida: nega a gravidade da crise, insiste no fim da quarentena e na retomada da atividade econômica. Todos os dias, cresce o número de políticos que pulam fora do navio do governo.
O presidente Trump deu uma lição de realismo político ao seu amigo brasileiro, presidente Bolsonaro. No início de março, o discurso do presidente americano estava alinhado com o do presidente brasileiro: ambos consideravam o coronavírus uma “gripezinha”. Mas os dados e os fatos fizeram Trump mudar de ideia.
No fim de março, o presidente americano considerou a epidemia do coronavírus “cruel” e mobilizou o arsenal americano para enfrentar a mais dura crise humanitária e econômica do século 21. No front econômico, o governo propôs e o Congresso aprovou uma ajuda emergencial de 2 trilhões de dólares para socorrer americanos desempregados e pequenas empresas.
O realismo político de Trump
No front humanitário, Trump entendeu a gravidade da epidemia. Recuou da sua decisão descabida de cravar a Páscoa como a data da retomada a atividade econômica nos Estados Unidos e, com uma voz grave e semblante sério, preparou os americanos para enfrentar um número assustador de mortes nas próximas semanas.
Segundo as estimativas, o coronavírus poderá matar de 100 mil a 240 mil pessoas no país esse ano. Isso significa que em 2020 poderá morrer mais americanos do que em três anos da Guerra da Coreia (1950-1953), vinte anos da Guerra do Vietnã (1955-1975), dezenove anos de guerra no Afeganistão (2001-2020) e oito anos de guerra no Iraque (2003-2011).
Trump compreende o impacto político do número de perda de vidas para a guerra contra o coronavírus. Um presidente insensível ao número extraordinário de cadáveres pode ser fatal para sua reeleição. Daí a mudança radical do seu discurso político e da sua atitude como presidente.
O Titatic Bolsonaro
Bolsonaro não aprendeu a lição política de Trump. Continua a insistir num discurso de negação da crise do coronavírus, rechaça os dados e fatos, insiste no fim da quarentena e na retomada da atividade econômica. O caminho que traçou é politicamente suicida.
Todos os dias, o número de desertores do Titanic Bolsonaro pulam fora do navio do governo. Vinte e quatro dos 27 governadores já estão na oposição. Os partidos aliados do presidente no Congresso assumiram uma postura de independência. Até mesmo ministros do governo já discordam publicamente do presidente.
É o caso do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta; uma das poucas vozes sensatas na liderança da crise, juntamente com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Enquanto Trump tenta remediar o tempo perdido em negar a crise do coronavirus, Bolsonaro e seu Titanic continuam a afundar no oceano da insensatez política.