A falência da britânica Thomas Cook, porém, é um claro sinal de que muita coisa precisa mudar.
Na semana passada foi à bancarrota uma das mais tradicionais agências de turismo do mundo, a britânica Thomas Cook, com 178 anos de história. As operações da empresa sofreram principalmente com mudanças no padrão de comportamento do consumidor britânico, que cada vez mais recorre a sites de comparação de preço e compra de passagem online.
Já não há, do outro lado do oceano, o mesmo gosto pela comodidade de bilhete, hospedagem e alimentação, tudo incluído no pacote. Atribuiu-se também a um fator climático o fim da operadora: um verão atipicamente quente para a ilha no meio do ano acabou mantendo ingleses em casa, ao invés de estimulá-los a destinos mais populares de verão, como as ilhas gregas. Por fim, as incertezas do Brexit não fizeram bem à saúde da Thomas Cook e da economia britânica em geral. A libra vem mantendo um patamar baixo em relação ao euro e ao dólar e todas as despesas do setor são indexadas pela moeda norte-americana.
Turismo brasileiro forte
Na contramão de resultados pouco animadores da economia, com crescimento estimado em 0,9% do PIB, de acordo com o Banco Central (BC), o turismo dá sinais de vitalidade no Brasil. O setor é responsável por US$ 153 bilhões do PIB nacional (8%). A pretensão de Jair Bolsonaro é que este número chegue a 10%. O mais importante plano do presidente é afundar navios, vagões, aeronaves, embarcações de diversos tamanhos, estátuas gigantes e viaturas blindadas em áreas propícias ao mergulho para estimular o turismo no litoral brasileiro. O turista envolvido neste tipo de atividade conferiria maior valor agregado que um visitante comum.
Mais importante do que afundar navios e estátuas está a necessidade de se resolver os reais problemas que inibem o turismo no Brasil. A redução dos índices de violência no país é fundamental para que o turista estrangeiro não se sinta ameaçado ao visitar o país. Não há como atrair mais visitantes de fora se persistir o medo de ser assaltado e assassinado numa temporada de lazer. A educação é outra barreira: cursos de certificação de agente de turismo precisam exigir ao menos uma língua, quiçá o inglês, para o exercício de atividade de guia, garçom, motorista de táxi ou recepcionista de hotel.
Uma medida positiva foi isenção de vistos. Segundo o Ministério do Turismo, citando dados do BC, US$ 598 milhões foram injetados na economia brasileira por turistas estrangeiros em julho deste ano, contra US$ 417 milhões registrados no mesmo período do ano passado, um aumento de 43,4%. Já em comparação com o mês de junho deste ano, o aumento foi ainda mais expressivo: 59,8%. Ainda de acordo com o governo, os resultados podem ser atribuídos à iniciativa de dispensar documentos de países estratégicos, como Austrália, Canadá, Estados Unidos e Japão.
Desafios
Na abertura da feira ABAV Expo, realizada na semana passada, em São Paulo, o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio declarou que é necessário, para ganhar ainda mais terreno, a oferta de produtos turísticos de maior qualidade. “Grécia, Portugal e México são exemplos de países que recuperaram suas economias com investimento em turismo”, disse. Ele ainda reforçou que desburocratização de processos e reformas tributária e fiscal são pontos a serem revistos para melhor concorrência no setor.
É um começo, mas não é tudo. Dentro do país há verdadeiras ilhas de turismo organizado e que funciona: Foz do Iguaçu, Gramado, Pantanal, Fernando de Noronha, Chapada Diamantina, por exemplo, são lugares bem preparados para receber. Já Lençóis Maranhenses é um desastre total. Não há serviço, hospedagem ou restaurante decentes. Em entrevista à Agência Brasil, o ministro citou ainda o exemplo negativo do Tocantins: “Eu estive no Jalapão, você desce no aeroporto de Palmas, depois são mais 280 km em uma estrada com pedra, buraco, areia e que só é possível chegar de jipe”.
Na frente dos sites
Ao contrário do que se traduz da falência da Thomas Cook, no Brasil a concorrência de sites de vendas de passagem não parece ter danificado muito o comportamento do consumidor de programar suas viagens com o suporte de um especialista. Os números indicam que o consumidor segue recorrendo ao apoio de uma das 2,3 mil agências especializadas em turismo existentes no país. Elas ainda respondem por 85% das vendas do setor, com faturamento de R$ 31 bilhões no ano de 2018 (dado mais recente).
As operadoras geram ainda 6,9 milhões de empregos no Brasil e mais de 319 milhões de empregos em todo o mundo e faturam mais de US$ 8,8 trilhões por ano, de acordo com estudo do World Travel & Tourism Council (WTTC).
Estados e municípios
Pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que em julho o índice de volume de atividades turísticas no país cresceu 4,4%, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Entre janeiro e julho de 2019, a taxa nacional mostrou crescimento de 3,2%. A receita do setor veio principalmente de hotéis, restaurantes e locadoras de automóveis.