Mais uma vez estamos evitando enfrentar os reais problemas da pandemia, da miséria, do desemprego e do baixo crescimento. É a estratégia do presidente encurralado para desviar a atenção pública
Artigo de Luiz Felipe D’Avila, fundador do CLP – Centro de Liderança Pública e publisher do VirtùNews
Toda vez em que está encurralado, o presidente Jair Bolsonaro inventa um falso problema para tentar desviar a atenção da opinião pública. Dessa vez, ante os desdobramentos da CPI da Covid, que expõe o escândalo da má gestão do seu governo, Bolsonaro inventa a história de reintroduzir o voto em manual em cédulas de papel. Trata-se de um verdadeiro absurdo, que não tem a ver com os problemas reais que o Brasil precisa enfrentar.
A urna eletrônica existe há 25 anos. Durante esse período não houve sequer uma única acusação de fraude de resultados eleitorais. Um sucesso estrondoso de um sistema que trouxe eficiência, transparência e combate às fraudes. O Brasil é um dos poucos países do mundo em que o eleitor sabe algumas horas após o fechamento das urnas quem venceu as eleições.
Fraudes eleitorais geralmente ocorrem justamente entre o fechamento das urnas e a apuração dos votos. Quanto maior esse tempo, maior a possibilidade de fraudes. Nos Estados Unidos, por exemplo, alguns estados podem levar semanas entre a apuração do voto e o resultado das urnas.
É justamente nesse interregno que acontecem as fraudes. Portanto, a reintrodução do voto da cédula pode atrasar a divulgação de resultados oficiais das eleições e criar suspeitas de fraude, porque poderá haver disparidade entre eventuais irregularidades do voto de papel e do voto eletrônico. Por fim, custará ao País mais de R$ 2 bilhões para reintroduzir o voto na cédula.
Em uma entrevista ao Virtù, Silvio Meira, cientista-chefe na Digital Strategy Company, afirmou que o processo de votação eletrônica pode ser aperfeiçoado para aprimorar a segurança. Porém, nunca houve evidências sólidas de fraudes. A votação eletrônica, afirma, traz eficiência e evita contestações, como ocorreu nos EUA no ano passado em razão da demora na apuração.
No momento em que o Brasil enfrenta uma pandemia que a miséria cresce, existem, certamente, prioridades para se utilizarem esses R$ 2 bilhões dos cofres públicos, no lugar serem gastos para acalmar uma paranoia do presidente da República. Bolsonaro sempre questionou a urna eletrônica, mas nunca apresentou uma única prova concreta contra o seu mau funcionamento.
Mais uma vez estamos evitando enfrentar os reais problemas da pandemia, da miséria, do desemprego e do baixo crescimento econômico para perder tempo com questões de paranoia bolsonarista, que já começa a questionar resultado das urnas das das eleições em 2022, porque o presidente sabe que tem grande chance de ser derrotado.
Se preferir, ouça na voz de Luiz Felipe D’Avila: